quinta-feira, 31 de maio de 2018

#outrodia
Sinto que a chuva cai
Parece a chorar por mim
Por saber que a vida passa
Num murmúrio que trespassa
O sentir que de mim sai.
Fica aqui tudo molhado
E o piso escorregadio
E todo o cuidado é pouco
Pois não quero ficar louco
Nem tão pouco destroçado.
Avanço assim temerário
Pela porta do calvário
Numa ilusão que me assedia.
Pode ser que a chuva pare
E que o sol se declare
Trazendo-me um novo dia.
(Mariavaicomasoutras)

terça-feira, 29 de maio de 2018

#restodenada

Entrego o corpo a Deus
Martirizado que está
Por saber que o amanhã
Só se forja num adeus.

A espera é tão sedenta
De um alimento irreal
Que mesmo um ténue sinal
A esperança não sustenta.

Num mar de interrogações
E linguagem confusa
A vida de mim abusa.

Entrego-me assim à sorte
De toda a banha da cobra
E ao nada, do vazio que me sobra!

(Mariavaicomasoutras)
#vidas
Cartas, namoro, encontros 
Caminhadas, pequenos gestos, carinhos 
Amor, amassos, partilhas 
Rebentos, lágrimas, dores 
Paixão, ciúmes, desencontros 
Desabafos, silêncios e alguns espinhos.

Constrói-se uma vida assim: 
Leal, humilde e sincera 
Um castelo pedra a pedra 
Qual jardim da Babilônia 
Que em areia se transforma 
No dissabor de uma maré sem fim.
Quando o tsunami chega! 
Termina por ali a quimera! 
Da vida que a carrega.
(Mariavaicomasoutras) 
#morte
Como recordo esse penoso dia! 
Eu, barqueiro de Almas destroçadas 
Em que chegaste a mim meio perdido 
De todo o materialismo de uma vida já despido 
Sem sequer da noite ou dia encontrar discernimento!
Atrás de ti sussurravam frágeis lágrimas 
Que dos rostos tombavam por sentimentos vitimadas! 
Apenas clamavas por um Amor 
Que precocemente partido 
Te teria cruelmente assim deixado!
Ah! Meu amigo e companheiro de infortúnio 
Não procures mais, esquece a aventura de um qualquer reencontro.
Olha!Olha bem dentro de ti! 
Que o Amor de tão puro e verdadeiro esteve sempre contigo aí!
(Mariavaicomasoutras) 
#passatempo

Como procurar diferenças 
Num quadro onde as imagens 
Em reboliço constante 
Se apresentam antagónicas?
Tal e qual como passar 
Devagar em frente ao espelho 
Que distorce e disforma 
O que está à sua frente.
A realidade da imagem 
Perturba o meu pensar 
Ofusca o brilho do olhar 
No andar da carruagem.
Nunca pude imaginar 
Ver a vida transformar-se 
Num tremendo passatempo 
De ver o tempo a passar
( Mariavaicomasoutras) 

segunda-feira, 28 de maio de 2018


gratidão
Uma palavra tão simples
Com um corpo complexo
Que apenas faz sentido
Quando o sentir é o seu nexo.
Nascida em circunstâncias
De atitudes que a enobrecem
Fica o ser agradecido
Muito além da vulgar consolação.
Tudo o que assim é reconhecido
No leito das evidências
É um mar de gratidão.
(Mariavaicomasoutras)

domingo, 20 de maio de 2018

#Quemdera
Quem dera que as surpresas 
Deveras me surpreendessem 
E que as coisas que acontecem 
Nunca nos acontecessem.
Há vazios mais profundos 
Que o mais profundo dos poços 
Há momentos mais escuros 
Do que a escuridão produz.
Neste meu desassossego 
Ao ver passar a procissão 
Faço ao pálio a reverência 
Invoco a minha redenção.
Respiro sem respirar 
Não falo porque não sei 
Apenas sinto pairar no ar 
O que nunca cheguei a sonhar.
(Mariavaicomasoutras) 
#descansaempaz
Crescido a ziguezaguear pelo jardim 
Que é um autêntico viveiro de flores 
Acabei por encontrar entre os amores
Um de esplendorosa beleza sem fim.
Uma Flor sem mácula ali nasceu, viveu e cresceu
Lutando arduamente contra imensos infestantes
Quais verdadeiros e arteiros meliantes
Que não deixaram ocupar o espaço que era seu.
Com um amor e paciência infindável
Deixou que duas das suas sementes
Germinassem intercaladamente
Fazendo dela uma mãe incomparável.
Como qualquer outro ser humano
Procurou em Deus e Cristo a piedade
Por ter entrado em si vinda do demo a crueldade
Traduzida num atroz sofrimento desumano.
Mas o caminho do tempo não volta atrás
Somos nós que o acompanhamos
Até um outro jardim onde um dia nos encontraremos
Por isso digo: "minha flor descansa eternamente em paz!"
(Aníbal Panza #Mariavaicomasoutras)

quinta-feira, 17 de maio de 2018

#destino
Perseguido pelo destino que a vida transporta em si 
Procuro dar passos certos nas dúvidas que há em mim. 
Mas que destino é este que nos arrasta a todos 
Para um local onde a gente não queria ir a bem e muito menos a mal?
Diz-me uma voz lá do fundo:" Mas isso não é o destino 
Essa coisa não existe é fruto da imaginação" 
E continua aquela alma, penada ou depenada, sei lá 
"Existe sorte ou falta dela apenas há coincidências" 
E diz mais o pertinente:" Destino é o resultado de ações 
E escolhas que fazemos, sem nunca esperar que alguém nos bata à porta".
Não! Não acredito que aquela voz me tenha dito que o Destino não existe. 
Existe! Claro que existe, porque as palavras existem 
E estas são o espelho daquilo que representam no nosso ciclo vital 
Palavras são expressões significantes nunca são coincidências
Logo o destino, os sonhos, as escolhas, a sorte 
Fazem com que cada um se arraste ou se deixe arrastar 
De acordo com a sua força, vontade ou conhecimento enquanto a vida nos leva 
Para onde nem sempre queríamos ir.
Que diabo, fica a dúvida que me deixa a pensar 
Afinal também há coincidências! 
Não faz mal! A dúvida apenas confirma enquanto tal 
Toda a nossa existência!
(Mariavaicomasoutras) 

domingo, 13 de maio de 2018

#infância

Menino sonhas com quê?
- Com nada!
Responder-me-ias assim se já soubesses falar!
Eu sei! Não tens tempo para isso!
Começas de pequenino a ser levado ao colinho e na rua, de carrinho!

Não é a idade dos sonhos
Apenas de descobertas.
Mais tarde, vais compreender,
Que nem sempre, tudo corre sobre rodas
E os colos também se vão
Quaisquer que sejam as modas!

Claro que voltava à infância
Se pudesse isso escolher
Pois na abençoada ignorância
Procuraria o conforto
De um futuro para a vida
Em vez de ter o confronto
De um futuro sem vida
Ou quem sabe
De uma vida sem futuro.

(Aníbal Panza)

sexta-feira, 11 de maio de 2018

#frageisconstatações
Quando o tempo se apresenta apressado 
De nada adianta deixar ideias a marinar.
Pela frente não falta luz 
Há uma imensidão de janelas 
Fechadas ou abertas aqui e ali 
Por onde entram lufadas de fresco ar 
Que permutam com outro bem mais bafioso e doentio.
Mas a luz não é nem será nunca o problema 
Apenas nos condiciona momentâneamente.
É a dureza e o frio das pedras que me preocupam 
Num pavimento erodido pelo constante palmilhar de seres angustiados 
Prestadores de cuidados e cuidadores rotinados 
Uns desgastados, outros algoritmamente vitimizados 
Não sabendo discernir corretamente entre os quês e os porquês.
É a espessura das paredes que nada deixam transparecer que me incomoda 
E onde o ver e o não ver que apesar de serem diferentes 
Igualmente a cada instante me asfixiam.
Serenidade é tão só a solução para uma espera. 
Destroçados vão saindo alguns dos rostos 
Contrastando com ligeiros sorrisos de esperança

Que para a clínica valem um pouco mais do que o nada ou coisa nenhuma.
Frágeis constatações que me perturbam 
Apesar da imunização que trago em mim ao longo de parte da vida.
E qual o corredor que agora escolho perante a imagem no espelho? 
É indiferente...mas persistirá o constatar de uma qualquer dúvida!
(Mariavaicomasoutras) 

quinta-feira, 10 de maio de 2018

#aspalavrastambémseesgotam
Quando às vezes acontece 
Que as palavras se esgotam 
Parecendo tão repetidas. 
É porque o sentir penetra 
Num antro que arrefece 
A mais simples das vidas.
Embaladas no berço de um vazio 
Perdidas em escuros labirintos 
Quando ressurgem na mente 
Provocando uns colossais arrepios 
Fica o corpo totalmente macambúzio 
Será verdade o que de verdade ela sente?
Não sei se mais percursos existem 
Que apontem para o infinito 
Do universo da significação das palavras 
Na construção estruturada dos poemas! 
Disseram-me que às vezes persistem... 
Nos travesseiros da pequenez das alcovas!
(Mariavaicomasoutras) 

domingo, 6 de maio de 2018

#temDias

Os dias nunca são todos iguais
Mesmo que as coisas não sejam diferentes das demais.
Mudam-se rostos
Os dos outros e o meu
Sim... não sou mais do que os outros!
Tem dias que mais parecem noites.
Pode parecer estranho
Mas os dias são dias porque há noites
Senão, seriam apenas dias de calendário.
Juro que já pensei virar os dias ao contrário
Mas a saída parecia mais trapalhona do que o próprio abecedário.
Dizem-me que é consoante a vogal proclamada... mais nada.

Tem dias que os dias são obscenos, impuros!
Pois são!
São dias de fantasias e de pura imaginação!
Tem dias... né?

(Mariavaicomasoutras)

#mãe
Um momento de prazer 
Sei lá eu com que intenção 
Nove meses do meu ser 
Ligado ao teu coração.
Algumas horas de dor 
Num parto tão natural 
Uma vida de amor 
Num cordão umbilical.
Quando relembro o passado
Ao ver as flores no jardim
Sinto-me recompensado
Pelo que fizeste pra mim.
(Mariavaicomasoutras)
#Mãe
Mãe! 
Falar da mãe sentindo 
Que o sentir não tem palavras. 
Que há uma voz embargada 
E um olhar bem mais que vítreo. 
Um caminho percorrido 
E um outro desconhecido 
Sombrio, dorido e sempre mais que sentido. 
Mãe ontem, Mãe hoje e amanhã. 
De tudo apenas fica o lamento 
De não ter vivido em tempo 
Os sonhos que alimentavam 
Um futuro que talvez não há. 
Mãe! 
Abre o coração aos sonhos 
Deixa que eles te invadam 
E com os olhos fechados 
A Luz do dia surgirá 
Quem sabe onde e quando 
Num abraço tão profundo 
Onde tudo se reencontrará.
(Mariavaicomasoutras) 

sábado, 5 de maio de 2018

#Silêncios
Normalmente 
Olho para o relógio uma e outra vez 
Os ponteiros andam sem parar 
De uma forma cadenciada. 
Sei que o tempo passa e com ele tudo vem e vai.
Mas, há algo de estranho que se sente 
No tempo que passa porque cada hora parece ter 
Mais do que os minutos que todas têm 
Normalmente.
Não! Hoje é anormalmente! 
Porque há um silêncio perturbador! 
Prenúncio de um vazio 
Mesmo com o romper do dia 
Onde já existe o bulício habitual.
Mas, isso é lá fora 
Porque deste lado está tudo parado 
Regelado, inerte ou paralisado 
É indiferente! 
Anormalmente!
São silêncios! 
Hoje mais do que o habitual 
Normal e anormalmente são o que são...Silêncios! 
Silêncios! 

(Mariavaicomasoutras)

quinta-feira, 3 de maio de 2018


#Maio#
Florido Maio que chegas
Sorrindo com tons de amarelo
Será que agora me negas
Que és o mês da mãe e Maria
Nas crenças que em ti carregas?
E que o teu primeiro de Maio,
Na sua carga emotiva com cariz libertador
Traz nas entranhas as marcas
De um criminoso massacre
Cometido em servis trabalhadores?
Maio... tão florido e aguerrido
Também transportas contigo
Nas turvas águas e atoleiros perigosos
Muitas chagas, quem sabe se  incuráveis
Do corpo dos esperançosos.
Maio, das maias de infestante beleza
No exotismo da arbustiva giesta
Atemorizadora dos demónios
Na cíclica idolatria das mentes
Sempre que o aroma lhes excita os seus neurónios
És assim um mês tremendo
No mistério, no odor, na cor, na dor.
De ti, nem ao de leve me abstraio
Serei se puder, teu frágil procurador
Meu poético mês de Maio!

(Mariavaicomasoutras)


#almagémea
Chegado a um precipício
Onde o ar quase nos falta
Há uma ideia que me assalta
Será a alma um benefício?
Ou quem sabe um malefício!
Agarrei-me ao corrimão
Dentro de mim um sobressalto
Conseguiu falar mais alto
Bloqueando-me a mão
E despertando-me a visão!
Nessa atitude tão expontânea
Vi no hoje um amanhã bem diferente
Sentindo que dentro da gente
Há sempre quem nos defenda!
Essa é de verdade a nossa alma gêmea.

(Mariavaicomasoutras)